O início dos anos 1960 foi um dos
períodos mais marcantes na historia de Santos. Com várias lideranças comunistas
na região, Santos foi batizada de como “Cidade Vermelha”. E a força dos
movimentos operários garantiu outro apelido: “República Sindicalista”.
Esses elementos eram vistos como potencias problemas para os militares. Eles
estavam dispostos a tomar o Governo Federal por acreditar que o presidente João
Goulart poderia implantar um regime comunista.
Foi por essa razão que o embaixador
norte-americano no Brasil, Lincoln Gordon, pediu o apoio do presidente dos
Estados Unidos, Lyndon Johnson, para combater uma possível resistência dos
militares que apoiavam Goulart, além dos comunistas operários.
Com a Guerra Fria em andamento,
qualquer linha de pensamento semelhante a utilizada pela União Soviética
despertava atenção dos Norte-americanos.
A operação Brother Sam estava pronta
para entrar em ação. Ela traria uma poderosa esquadra americana à costa
brasileira, com destino final em Santos.
A consolidação do movimento militar,
no entanto, dispensou a operação militar norte-americana. A partir dai a
população santista sofreu uma série de abusos e derrotas. A cidade perdeu sua
autonomia política e viu sua posição de destaque no cenário mundial despencar,
tanto na área econômica quanto na aérea política. E ainda preciso conviver com
uma situação extremamente desagradável: diretores dos sindicatos responsáveis
pelas principais atividades econômicas da região presos sem terem cometido
qualquer crime.
Navio Raul Soares
“Arrancamos das entranhas do navio maldito as histórias proibidas dos sombrios cárceres, dos calabouços de tortura de presos políticos em 64″. Reprodução da capa desse mensário publicado em setembro de 1979
Santos era uma cidade muito
estratégica para o movimento militar. No dia 3 de abril, o então residente João
Goulart faria um comício em Santos. Serio o primeiro após o famoso encontro na
Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Santos também seria o destino final de da
esquadra norte-americana, que viria preparada para a guerra civil.
De acordo com o ex-almirante da
Marinha Júlio de Sá Bierrebach que esteve a frente da Capitania dos portos de Santos
durante o período militar, a principal missão em Santos era acabar com as
greves, “Quase 86 mil homens aderiram a esses movimentos no ano anterior. Foram
mais de 230 dias sem trabalho. Algo precisava ser feito urgentemente”.
Porém os anos de chumbo do regime
militar vieram com o AI-5, baixado em 1968 e vigorado por mais de 10 anos. Há
pessoas que garantem que os abusos militares já começaram logo em abril de
1964, quando Santos recebeu o navio-presídio Raul Soares.
Em 2013, por exemplo, a Comissão da
Verdade incluiu a embarcação como um dos quatros centros de tortura no estado
de São Paulo entre 1964 e 1965.
Tal atitude fortalece ainda mais a
opinião dos presos e familiares. Militares e sindicalistas divergem sobre a
real razão de trazer um navio para embarcar presos políticos e diretores e de
sindicatos. O almirante Júlio de Sá Bierrebach afirma que os presos só foram
transferidos para o navio, pois não havia mais para todos os presos no Palácio
da Polícia.
Assista nesse link uma reportagem da
TV Tribuna sobre o navio-presídio Raul Soares: http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2012/11/personagens-relembram-historias-vividas-no-navio-raul-soares.html
Movimentos sindicalistas
Os sindicalistas, apontados como
comunistas e baderneiros, eram um dos principais alvos dos militares e
organizadores dos Marchas da Família. Os operários foram ditos como os
responsáveis pelos prejuízos na economia brasileira e pelo caos instalado nas
cidades. Os setores conservadores consideravam inadmissíveis as paralisações
realizadas pelos operários, principalmente no Porto de Santos, o mais
importante do continente.
Naquela época, Santos era a Vanguarda
das iniciativas sindicais no Brasil. Possuía um movimento similar ao de 1978 na
região do ABC, que resultou na criação da Central Única dos Trabalhadores
(CUT).
O importante jornal carioca Correio
da Manhã publicou em janeiro de 1964 um balanço das greves na Baixada Santista,
mostrando média de 3,4 greves por mês.
Por conta desses movimentos sindicais,
Santos foi duramente punida. Viu seus eleitores perderem autonomia política e
várias de suas lideranças serem presas ou terem seus direitos políticos cassados.
Sindicalistas da época afirmam que o
golpe já estava sendo tramado há tempos e que, inclusive, muitas das greves saíram
contra a vontade dos sindicatos. ”Os militares usavam essa artimanha para jogar
o povo contra o movimento sindical. Eles se infiltravam nos movimentos operários
e provocavam as greves”, diz ex-diretor do Sindaport, Osmar Golegã.
Fontes:
Jornal A Tribuna, edição de 31 de março de 2014: “50 anos de
Março de 1964”.
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