terça-feira, 29 de abril de 2014

Santos: participação especial na Ditadura Militar Brasileira

O início dos anos 1960 foi um dos períodos mais marcantes na historia de Santos. Com várias lideranças comunistas na região, Santos foi batizada de como “Cidade Vermelha”. E a força dos movimentos operários garantiu outro apelido: “República Sindicalista”. 
Esses elementos eram vistos como potencias problemas para os militares. Eles estavam dispostos a tomar o Governo Federal por acreditar que o presidente João Goulart poderia implantar um regime comunista.
Foi por essa razão que o embaixador norte-americano no Brasil, Lincoln Gordon, pediu o apoio do presidente dos Estados Unidos, Lyndon Johnson, para combater uma possível resistência dos militares que apoiavam Goulart, além dos comunistas operários.
Com a Guerra Fria em andamento, qualquer linha de pensamento semelhante a utilizada pela União Soviética despertava atenção dos Norte-americanos.
A operação Brother Sam estava pronta para entrar em ação. Ela traria uma poderosa esquadra americana à costa brasileira, com destino final em Santos.
A consolidação do movimento militar, no entanto, dispensou a operação militar norte-americana. A partir dai a população santista sofreu uma série de abusos e derrotas. A cidade perdeu sua autonomia política e viu sua posição de destaque no cenário mundial despencar, tanto na área econômica quanto na aérea política. E ainda preciso conviver com uma situação extremamente desagradável: diretores dos sindicatos responsáveis pelas principais atividades econômicas da região presos sem terem cometido qualquer crime.

Navio Raul Soares

“Arrancamos das entranhas do navio maldito as histórias proibidas dos sombrios cárceres, dos calabouços de tortura de presos políticos em 64″. Reprodução da capa desse mensário publicado em setembro de 1979

Santos era uma cidade muito estratégica para o movimento militar. No dia 3 de abril, o então residente João Goulart faria um comício em Santos. Serio o primeiro após o famoso encontro na Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Santos também seria o destino final de da esquadra norte-americana, que viria preparada para a guerra civil.
De acordo com o ex-almirante da Marinha Júlio de Sá Bierrebach que esteve a frente da Capitania dos portos de Santos durante o período militar, a principal missão em Santos era acabar com as greves, “Quase 86 mil homens aderiram a esses movimentos no ano anterior. Foram mais de 230 dias sem trabalho. Algo precisava ser feito urgentemente”.
Porém os anos de chumbo do regime militar vieram com o AI-5, baixado em 1968 e vigorado por mais de 10 anos. Há pessoas que garantem que os abusos militares já começaram logo em abril de 1964, quando Santos recebeu o navio-presídio Raul Soares.
Em 2013, por exemplo, a Comissão da Verdade incluiu a embarcação como um dos quatros centros de tortura no estado de São Paulo entre 1964 e 1965.
Tal atitude fortalece ainda mais a opinião dos presos e familiares. Militares e sindicalistas divergem sobre a real razão de trazer um navio para embarcar presos políticos e diretores e de sindicatos. O almirante Júlio de Sá Bierrebach afirma que os presos só foram transferidos para o navio, pois não havia mais para todos os presos no Palácio da Polícia.

Assista nesse link uma reportagem da TV Tribuna sobre o navio-presídio Raul Soares: http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2012/11/personagens-relembram-historias-vividas-no-navio-raul-soares.html

Movimentos sindicalistas

Os sindicalistas, apontados como comunistas e baderneiros, eram um dos principais alvos dos militares e organizadores dos Marchas da Família. Os operários foram ditos como os responsáveis pelos prejuízos na economia brasileira e pelo caos instalado nas cidades. Os setores conservadores consideravam inadmissíveis as paralisações realizadas pelos operários, principalmente no Porto de Santos, o mais importante do continente.
Naquela época, Santos era a Vanguarda das iniciativas sindicais no Brasil. Possuía um movimento similar ao de 1978 na região do ABC, que resultou na criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
O importante jornal carioca Correio da Manhã publicou em janeiro de 1964 um balanço das greves na Baixada Santista, mostrando média de 3,4 greves por mês.
Por conta desses movimentos sindicais, Santos foi duramente punida. Viu seus eleitores perderem autonomia política e várias de suas lideranças serem presas ou terem seus direitos políticos cassados.

Sindicalistas da época afirmam que o golpe já estava sendo tramado há tempos e que, inclusive, muitas das greves saíram contra a vontade dos sindicatos. ”Os militares usavam essa artimanha para jogar o povo contra o movimento sindical. Eles se infiltravam nos movimentos operários e provocavam as greves”, diz ex-diretor do Sindaport, Osmar Golegã.

Fontes:
Jornal A Tribuna, edição de 31 de março de 2014: “50 anos de Março de 1964”.

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