domingo, 4 de maio de 2014

Ditadura Militar - Torturas

            O Regime Militar que foi instaurado através do golpe de  1º de Abril de 1964, em consequência de “tendências e contradições” que vinham acontecendo nos anos anteriores, foi fortemente marcado pelo autoritarismo, supressão dos direitos constitucionais, perseguição política, censura e principalmente pelas mais desumanas torturas aos opositores.
             Nas décadas de 60 e 70, os militares brasileiros se transformaram em agentes de práticas repressivas, utilizando os mais sofisticados métodos de tortura, que eram até mesmo importados de outros países, como por exemplo, dos Estados Unidos.
             As torturas eram usadas como forma de extrair depoimentos com informações que interessavam os militares; intimidar a população, fazendo com que os opositores não escondessem essas informações  e consolidar o governo, que foi construído e mantido sem o consentimento ou qualquer participação popular. Esse método, que durante o regime militar calou, torturou e matou sem o menor constrangimento centenas de brasileiros,  se revelou eficaz para garantir um Estado de ilegalidade.
            Foi durante a ditadura militar, que as maiores atrocidades foram cometidas contra aqueles que se opunham ao governo. Neste período, os estudantes,  intelectuais e engajados políticos, foram as principais vítimas do sistema que literalmente doavam suas vidas para contestar. O Alvo das torturas, ou melhor, os “inimigos internos do Brasil”, eram especificamente os comunistas, que durante a ditadura, eram paradoxalmente vistos como traidores dos princípios democráticos.
            A tortura do regime militar iniciou no Brasil desde o primeiro dia de golpe. A primeira vítima foi o Líder camponês e comunista Gregório Bezerra. Nesse dia, Gregório foi amarrado e arrastado pelas ruas de Recife e espancado com uma vareta de ferro. Porém, no mesmo dia, Recife também sofreu com a agressão e mortes de civis em protestos a favor da democracia.
Um mês depois do golpe, os presos políticos eram conduzidos para o navio Raul Soares, uma prisão flutuante que ficava na Baixada Santista e que era dividida em três calabouços, nomeados a partir de boates famosas da época: 
El Moroco, salão metálico, sem ventilação, ao lado da caldeira.  Nessa parte, os prisioneiros eram expostos a uma temperatura que passava dos 50 graus;
 Night in Day, uma pequena sala onde os presos ficavam com água gelada pelos joelhos;
 Casablanca, os presos ficavam onde eram despejadas as fezes do navio.
                       Quanto mais tempo durava o regime militar, mais as pessoas faziam oposição às atrocidades que eram cometidas. Vários setores da sociedade passaram a contestar o regime. Aumentava a contestação, a resposta era de intensificação da tortura, e em consequência disso, a sofisticação dos métodos que ocasionavam um grande número de mortos.
As pessoas que eram presas sofriam com furadeiras elétricas que eram usadas para perfurar corpos, navalhas para rasgar a carne, cigarros para queimar órgãos genitais, e muitas mulheres sofriam abusos sexuais. Socos, pontapés, afogamentos, também eram complementos às torturas, que ficavam cada vez mais elaboradas.
As torturas mais famosas registradas eram:
Pau-de-Arara – O preso era colocado nu, abraçando os joelhos e com os pés e as mãos amarradas. Uma barra de ferro passava entre os punhos e os joelhos. Nesta posição a vítima era pendurada entre dois cavaletes, ficando suspensa à alguns centímetros do chão. A posição causava dores e atrozes no corpo.
Cadeira do Dragão – Os presos eram sentados nus em uma cadeira elétrica, toda revestida de zinco, ligada a terminais elétricos, assim eram transmitidos choques por todo o corpo do preso.
Balé no Pedregulho – O preso era posto nu e descalço em um local com temperatura abaixo de zero, com um chuveiro gelado, e um piso cheio de pedregulhos com pontas agudas, que perfuravam os pés das vítimas. A tendência do torturado era pular sobre os pedregulhos, como se dançasse para aliviar a dor.
Telefone – Com as duas mãos em posição côncava, o torturador, de uma só vez, aplicava um golpe violento nos ouvidos da vítima. O impacto era tão forte e violento, que rompia os tímpanos do torturado.
Afogamento na Calda da Verdade – A cabeça do torturado era mergulhada em um balde cheio de água, urina, fezes, vômito e outros detritos até a vitima se afogar na “calda da verdade”. Após o mergulho, a vítima ficava sem tomar banho vários dias, até que o seu cheiro ficasse insuportável.
Geladeira – O preso era posto nu em cela pequena e baixa, Os torturadores alternavam o sistema de refrigeração, que ia do frio extremo ao calor exacerbado, enquanto alto-falantes emitiam sons totalmente irritantes.
Mamadeira de Subversivo – Era introduzido na boca do preso um gargalo de garrafa cheia de urina quente, normalmente quando o preso estava sendo torturado no pau-de-arara.
Um grande problema das torturas para os torturadores, era o que se fazer com os corpos dos torturados mortos. Para resolver esse problema, médicos legistas passaram a fornecer laudos falsos, que escondiam as marcas da tortura, justificando a morte da vítima como sendo de causas naturais, sendo a mais comum delas suicídio. Quando não se podia ocultar as evidências da tortura, muitos cadáveres eram enterrados como anônimos, sem que os familiares jamais soubessem o que aconteceu aos corpos dos seus mortos.
             Mesmo diante de tantas evidências, o governo militar jamais admitiu que havia tortura no Brasil, o presidente Castelo Branco chegou a negar publicamente a existência de truculência em seu governo. Mas contrariamente às palavras do presidente, no dia 24 de agosto de 1966, foi encontrado boiando no rio Jacuí, afluente do rio Guaíba, em Porto Alegre, o corpo do sargento Manoel Raimundo Soares, já em estado de putrefação, com as mãos amarradas para trás. O sargento fazia parte dos militares expurgados do exército por causa do seu envolvimento com a militância política no governo João Goulart. O seu corpo trazia marcas de tortura, causando grande comoção e revolta da população na época. Este foi o primeiro caso de tortura e morte que causou grande repercussão, ficando conhecido popularmente como o “caso das mãos atadas”. Os militares prometeram investigar as circunstâncias da morte do sargento e punir culpados, mas arquivaram o caso e jamais tiveram o trabalho de investigá-lo.

            “A tortura durante o período do regime militar não livrou o Brasil dos militantes de esquerda, tão pouco destituiu da mente das pessoas o direito à liberdade de expressão que todos sonhavam. Se na sua propaganda o regime salvou o Brasil de terroristas comunistas, nos seus porões ela garantiu a sobrevivência de 20 anos de um Estado ilegítimo, feito sob a força bruta e o silêncio dos seus cidadãos.”

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